“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus e na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.5-11)
1. Tende em vós o mesmo sentimento de Jesus Cristo.
A esta afirmação cabe uma pergunta: Que sentimentos expressou Jesus?
A passagem que eu escolho para exemplificar os sentimentos de Jesus é a do batismo. Pois, naquele momento, Jesus estava entre dois sentimentos humanos: orgulho e humildade; ele sabia de antemão o que iria acontecer: o Espírito desceria sobre Ele, e Deus declararia ser Ele o seu Filho amado. Por discernir tudo isto, o profeta João Batista se recusa a batizá-lo, e declara: “Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3.14) Sim, o palanque estava armado, Jesus podia se exaltar diante do povo. Mas não, Jesus escolheu se submeter, humilhar-se a um batismo, sinal de arrependimento, purificação de pecados e de aliança com Deus, por isso declarou: “Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.”
Submissão a palavra da justiça, humildade e obediência, eram os sentimentos de Jesus do início ao fim do seu ministério. Não se esqueçam, ele terminou sua obra, dizendo: “Meu Pai, se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.” (Mt 26. 39)
Esse sentimento ocupa um lugar de pouco destaque no mundo, hoje, onde todos querem brilhar, lutam por aparecer. Humildade, submissão e obediência fazem muita falta no mundo e na Igreja, hoje.
2. A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo.
A força desta poesia adquire maior profundidade com o termo ekenôsen, que é o aoristo do verbo kenáo, que significa esvaziar, neste texto, indica a entrega total de todo e qualquer direito que Jesus tinha como Filho de Deus, como Deus, um esvaziamento total. Este ato é e sempre será uma lição de doação de Jesus, especialmente em nosso tempo, quando poucos abrem mão de seus direitos, em benefício de muitos. Pelo contrário, a maioria tenta reivindicar direitos que nem possui, isso quando não os toma indevidamente.
Ao assumir a forma de servo, Jesus caminhou na direção oposta do nosso mundo. Na cabeça da maioria das pessoas, o que vemos é lutar para galgar posições, de modo a ser chefe, exercer domínio sobre outros, ser servido. Mesmo nas igrejas, vemos ocasionalmente este princípio se infiltrar. Se vamos estimular a liderança conforme Jesus, devemos ser “servos uns dos outros” (Gl 5.13), como recomendou o apóstolo Paulo.
Outra característica está presente na parábola dos primeiros lugares no banquete. (cf. Lc 4. 7-14). Jesus, convidado para esse evento na casa de um fariseu, ensina que devemos ser servos, nunca nos exaltarmos e querermos conquistar os primeiros lugares por nosso próprio esforço. Devemos deixar que Deus nos coloque no lugar que Ele quer. “Servos se humilham e esperam que Deus os exalte”. Sentimento de servo, foi com freqüência exposto por Jesus.
Não vai ser possível liderar se a posição, o lugar não foi dado por Deus, pois quando é conquistado apenas pelo esforço humano e injunções políticas, tal posição poderá ser tomada por outra pessoa com maior esforço e mais poderosas injunções políticas.
Aliás, Jesus censurou severamente os discípulos, quando os encontrou discutindo e lutando por cargos e posições maiores (cf. Lucas 22. 24ss). E disse: “Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve."
Desse modo, vamos nos empenhar para que a nossa liderança se afirme com base no espírito de servo com que conduzimos nosso ministério, sendo servo de Deus e do rebanho.
3. Tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
A liderança de Jesus foi centrada na obediência ao Pai, a ponto de ele afirmar: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamento de meu Pai e no seu amor permaneço.” (Jo 15.10). Este reconhecimento da importância da obediência aos mandamentos de Deus se soma à obediência ao plano, à missão de Deus. Isso fez Jesus declarar também: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer.” (Jo 17.4) A obediência irrestrita nos faz um com Deus, nos torna mais do que servos de Deus, nos torna amigos de Deus, amigos de Jesus: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (Jo 15.14s).
Esta nova condição de relacionamento com Deus, conforme Jesus, nos inclui no círculo da intimidade de Deus, e Deus nos revela os seus propósitos, como diz o salmista (cf. Sl 25.14). Assim, conseguimos desenvolver uma liderança bem sucedida, porque não estamos dirigindo a “nossa” igreja, ou executando os “nossos” planos; lideramos com humildade, senso de serviço e obediência, sim, lideramos a igreja do Senhor e executamos os planos do Senhor.
Obediência se realiza quando damos cumprimento às decisões dos Concílios, mesmo aquelas com que não concordamos; quando damos cumprimento às orientações do bispo, do/a superintendente distrital, do/a pastor/a. Para isso, precisamos ser servos humildes do Senhor Jesus.
4. Para a Glória de Deus Pai.
A liderança de Jesus buscava, antes de tudo, a glória de Deus. Este é o critério para reconhecermos uma liderança cristã sadia e madura.
Jesus fugiu das multidões que desejavam tirar partido de sua liderança, do carisma de Deus que estava nele, ou tentarem retê-Lo para si (cf. Lc 4.42). Tanto na Palestina como no Brasil, hoje, o povo busca ídolos, heróis, messias. Isso porque, na raiz da maioria das religiões presentes no Brasil, somente o sacerdote pode abençoar, ele é o mediador, o povo comum não tem aportunidade, nem vez, nem voz. Por isso, com facilidade, se transplanta essa lógica religiosa para o campo político: homens e mulheres inescrupulosos tiram proveito da ignorância do povo, e manipulam-no em seu benefício, alcançam a “glória”, dinheiro, às custas do povo; isso ocorre na política como também na religião.
Nós não estimulamos, nem cremos nesse estilo de liderança. Primeiro porque cremos que, embora nossas lideranças são canais para nos abençoar, há um único caminho para Deus: Jesus. Todos os frutos que vemos no nosso ministério devem apontar para a videira, que é Jesus, e o agricultor, que é Deus. E Eles, tão-somente Eles, o Pai e o Filho e o seu Espírito, devem ser glorificados. E nós, líderes maduros, devemos fazer tudo sem descanso, e depois bater no peito e dizer: “somos servos inúteis”.
Devemos, sim, ensinar nossas ovelhas a aprenderem a se alimentar na fé, a obter vitória diante de Deus, andarem maduramente na Palavra de Deus e a dependerem exclusivamente de Deus (cf. Cl 1.9-12). Obviamente, respeitarem e reconhecerem suas lideranças, mas sem dependência destas, pois isso significa que são discípulos/as maduros e que sabem resistir ao Diabo, e frutificar no Espírito do Senhor, tudo para a glória de Deus na vida da Igreja do Senhor.
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