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domingo, 25 de outubro de 2009

O CASAMENTO JUDAICO (João 2.1-12)


Não se sabe exatamente quando o homem começou a casar, mas esta prática vem sendo comum e muito valorizada a mais ou menos 3 mil anos.
A duração das festas Judaicas eram de 7 dias; Os convidados chegavam a cada dia e alguns permanecia por vários dias.

1° - O noivado ou estabelecimento do acordo de casamento: para isso o rapaz deixava a sua casa e viajava até a casa da noiva escolhida, lá o jovem pedia a mão da filha ao pai, se houvesse consentimento, era estabelecido o dote a ser pago pela noiva (costume que existe até hoje entre alguns povos orientais) 
2° - Tão logo o noivo pagasse o dote, o casamento estava juridicamente selado, então os noivos bebiam juntos um cálice de vinho, simbolizando o estabelecimento do acordo. A partir deste momento, eram considerados casados, mas ainda sem vida comum, pois o noivo voltava a casa paterna.
Ali permanecia aproximadamente um ano e preparava a morada para a vida conjunta. 
3° - Após esse tempo de separação numa noite desconhecida pela noiva, o noivo convidava seu padrinho e amigos e juntos se dirigiam à casa da noiva com tochas acesas nas mãos. 
4° - Os espectadores nas ruas percebiam e diziam uns aos outros "eis o noivo" Os gritos iam de boca em boca até alcançar a noiva em casa do seu pai. Assim ela tinha tempo de se preparar e na mesma noite ser levada pelo noivo.
Rapidamente mandava avisar suas damas de honra para vesti-la e enfeitá-la, pois o noivo vinha buscá-la.
5° - Os jovens que saiam com o noivo e chegavam a casa da noiva antes da sua preparação, não entravam, ficavam esperando na rua.
Somente quando a noiva estava pronta e deixava a casa paterna para ir ao encontro do noivo e seus amigos, coberta por um véu, os convivas reunidos iam então a luz das tochas para a casa paterna do noivo. Lá já estavam outros convidados, junto às mesas postas no salão de festas. 
As amigas da noiva cantavam o ´Epitalâmico´, ou ´cântico nupcial´, à porta da noiva, à tarde antes do casamento, sendo isto um fato que lança muita luz sobre as palavras de Jesus quando disse: ´Podem acaso estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?´ Os convidados das duas partes são chamados ´filhos das bodas´.
Após uma breve saudação aos convidados, os noivos se retiravam para o aposento nupcial a ´huppah´, onde consumavam o matrimônio, tornando-se assim marido e mulher de fato e de direito. A noiva guardava o lençol manchado de sangue 
Após certo tempo, o noivo voltava sozinho até os jovens, que levavam a notícia aos convidados, e aí então iniciava-se as festividades que durava sete dias. A noiva ficava no aposento nupcial, durante um período chamado de ´4 dias de ocultamento´ ou ´dias do aposento nupcial´.
6° - No final do 7° dia, o noivo conduzia sua jovem esposa, agora sem véu para fora do aposento e apresentava-a aos seus convidados.
- Era costume as pessoas mais ricas aparecerem com ricos trajes; Se o casamento fosse entre pessoas muito ricas, cada convidado recebia um traje todo pomposo numa câmara por onde os convivas passavam e tomavam suas novas vestes entes de entrar no salão. (este costume ainda persiste com alguns povos do Oriente).
- As virgens casavam-se costumeiramente na quarta feira à tarde, já as viúvas ordinariamente se casavam no quinto dia da semana. Esse regulamento foi estabelecido a fim de que surgindo qualquer disputa ou dúvida acerca da virgindade da noiva, o marido apresentaria o caso ao sinédrio.
- A Lei: quando uma moça se casava, ela guardava o lençol manchado com o sangue da sua virgindade como prova da sua pureza, para que havendo qualquer problema com seu esposo, quanto a sua virgindade, ela ou seus pais, tomariam estes lençóis e levariam aos anciãos da cidade para que fossem tomadas as providências - Dt.22.14-15
- Nas cidades, o sinédrio se reunia no segundo e no quinto dias de cada semana, e se um homem se casasse em um quarto dia da semana, e tivesse algum motivo para duvidar da virgindade de sua esposa, poderia apresentar o caso já no dia seguinte ao do casamento.
- Ao terceiro dia - talvez uma alusão a ressurreição.
- Chamada assim para distinguir da outra Caná, na Coele-Síria - Js.19.28. Tradicionalmente tem sido identificada com Kerf Kenna, distante 6 Km de Nazaré, nesta região existem amplas fontes de água e muitas figueiras que dão bastante sombra, o que é sugerido no texto;
- Outra localização mais provável é Khirbet Qana, povoado em ruínas cerca de 14 Km ao norte de Nazaré;
- Flávio Josefo, que viveu entre 37 e 103 d.C., apoia esta opinião, pois teve ali seu Quartel General no ano 66 d.C.;
- Depois da Bíblia, suas obras são a maior fonte de informações sobre os impérios da antigüidade, o povo judeu e o Império Romano.
- Esse nome deriva de Kana, que significa "Lugar de canas" - tratava-se de uma aldeia da Galiléia das terras altas, a oeste do lago da Galiléia e é mencionada por três vezes em João;
- Neste localidade Jesus curou o filho de um oficial do rei que jazia enfermo em Cafarnaum;
- Local de nascimento do apóstolo Natanael, discípulo de Jesus. (Jo.21.2)
- Jesus, Maria, João, André, Pedro, Felipe e Natanael
- 7 pessoas, eram esses os primeiros discípulos - Jo.1.35-51;
- O motivo para não se falar sobre a presença de José, pai de Jesus, e nem de seu envolvimento futuro no ministério de Jesus, prende-se ao fato de que talvez ele tivesse falecido quando da infância de Jesus;
- É bem provável que Jesus tenha chegado quase no fim da festa, se considerarmos o vinho estar escasseando;
- Jesus participava das festas comemorativas na sua comunidade, não era um asceta, ele compartia das alegrias pessoais e coletivas, isso indica que o cristão não deve sair do cenário mundial, mas participar dele, quando não afrontar a sua fé cristã;
- Especuladores dizem que o casamento era do evangelista João - (o texto não possibilita essa interpretação tendenciosa);
- Os Mormons acreditam que se tratava do casamento do próprio Jesus - (uma leitura cuidadosa do texto derruba esta tese - (uma inferência ou seja, eixegese)) (eixegese)
.
- Era comum o vinho acabar, tendo em vista os sete dias de festa e provavelmente um grande número de convidados;
- O vinho era servido livremente;
- vinho bom era aquele fervido e mais adocicado;
- Faltar vinho afetava a reputação e a honra do hospedeiro.
- Ela sabia que Jesus poderia realizar algum tipo de milagre;
- Crisóstomo e outros acreditavam que Jesus já havia operado alguns milagres no círculo familiar e que Maria, ciente desse fato, estava na expectativa de mais um milagre;
- Maria conhecia o propósito messiânico de Jesus;
- Maria tinha uma fé inabalável no poder de Jesus, tanto que dá ordens aos escravos/servos, quando disse: façam tudo que ele vos mandar.
". . . que tenho eu contigo . . ."
- ti emoi kai soi (ti emoi kai soi) = "o que é isso para mim e para ti?
"Não tens direito de me culpar. O problema está sendo cuidado"
"que tenho eu contigo ou que tens tu comigo"
"O que há entre mim e ti?",
"Não é preciso que a senhora me diga o que eu devo fazer" e ainda
"Que queres de mim mulher".
- gunai (gunai) = mulher, não sem respeito - quando estava na cruz ele usou a mesma palavra que poderia ser traduzida para madame, senhora ou ainda minha senhora;
- uma forma de repreensão suave;
- os protestantes dizem que foi para combater a mariolatria e a mariologia;
- para corrigir o futuro abuso e superstição da adoração a virgem;
- É certo que não foi uma forma de desprezo, visto que este tratamento é muito comum nos escritos das tragédias gregas, quando alguém se dirigia a rainhas ou a outras mulheres distintas.
* Augusto se dirigiu assim a Cleópatra, rainha do Egito
* Jesus tratou assim Maria Madalena - Jo.20.15
* Jesus na cruz, tratou assim sua mãe, Maria - Jo.19.26.
Não é chegada minha hora
- "eu escolherei o momento apropriado" referindo-se a sua intenção de fornecer o vinho necessário.
Fazei tudo que ele vos disser
- foi a mesma frase proferida pelo Faraó, com respeito a José do Egito - Gn.41.55;
- Lembremos que José foi um tipo de Cristo.
Serventes, servos ou escravos
- Escravo em grego é douloi (douloi), mas no texto a palavra é diakonoi (diakonoi) e foi traduzida para diácono que é "alguém que serve no trabalho do evangelho", provavelmente em alguma capacidade material, conforme aplicado a Febe em Atos.
- Esses utensílios e a água serviam para as cerimônias judaicas de puruficação, para enxaguassem as mãos e possibilitar a lavagem dos utensílios usados na festa, visto ser o judeu extremamente rigoroso no que diz respeito à limpeza do corpo (cerimonial);
- As talhas eram feitas de pedra por que se cria que a pedra preservava a pureza e a frieza da água e por estar menos sujeita a impurezas. A pedra era prescrita pelas autoridades judaicas para as lavagens antes e depois das refeições;
- A água na região da Palestina era bastante escassa, daí o motivo de tantas talhas e também por ser um casamento com muitos convidados, havia a necessidade de uma reserva.
- As purificações - ver mais.
- superstição quanto ao número:
- é número de trabalho, do enfado, da necessidade e da imperfeição;
- que seis dias antes da Páscoa Jesus chegou em Betânia, iniciando sua penosa via dolorosa;
- é o número do anti-cristo, da discórdia e da maldade;
- o dia da criação da mulher;
- o livro de cabala judeu Sohar - adverte conta o tríplice seis como número da punição;
- Unidade de medida - eqüivalia a cerca de 38 litros, ou seja, havia disponível de 600 a 900 litros de água, segundo alguns comentadores.
Enchei as talhas
- As talhas estavam quase vazias, a água havia sido usada para as abluções.
- Quando Jesus disse para que tirassem a água e a servissem usou a palavra antlev (antlen) = tirar, tirar para fora. Freqüentemente usado para tirar água de um poço, mas aqui, de uma talha d'água;
- Não se sabe quando o milagre ocorreu, se quando a água estava ainda dentro das talhas ou no percurso até a taça do convidado ou então na própria taça, sabe-se porém que houve um milagre sobrenatural operado ali;
- por esse primeiro milagre, foi despertada a fé dos seus discípulos e dos outros, muito embora já tivessem crido nele - Jo.2.12;
- O milagre foi de forma sobrenatural, embora muitos digam que Jesus trouxe o vinho de outro lugar e que a os servos foram buscar;
- shmeion (semeion) = sinal, um ato ou milagre que visa levar à crença em Jesus como o Messias, o filho de Deus.
Fazendo nossa parte
- Os servos fizeram sua parte no negócio, ou seja, fizeram o que lhes era possível, não tiveram que realizar pessoalmente o milagre, ficou a cargo de Jesus, a transformação.
- arko (arko) = ser chefe, dirigir, - era costumeiro entre os gregos entregar a uma pessoa particular, o arranjo da mesa, bem como de todos os outros serviços, tais como o de provar o vinho, o da distribuição do vinho, o da preparação das lâmpadas, etc. - Cristo agiu como o grande mestre-sala, que cuidou das tarefas mais difíceis vinculadas ao seu ofício messiânico que é a salvação da humanidade - O vinho tornou-se abundante e isso reflete a provisão que nos é dada por Cristo.
Vinho melhor
- o motivo para se oferecer um vinho de melhor qualidade, se dava pelo fato de que no final da festa, os convidados já não poderiam criticar a qualidade, tendo em vista estarem (bêbados).
- mequsqvsin (metustosin) = ficar bêbado, embriagar-se (essa palavra não subentende que os hóspedes já estivessem bêbados);
- O uso metafórico desse vocábulo se tornou comum como gíria, indicando um homem embriagado, como se estivesse encharcado ou molhado.

16 comentários:

  1. "2° - Tão logo o noivo pagasse o dote, o
    casamento estava juridicamente selado, ...
    A partir deste momento, eram considerados
    casados, mas ainda sem vida comum, pois o
    noivo voltava a casa paterna. Ali permanecia
    aproximadamente um ano ... Referências: I
    Co.11.25 - I Co.6.20 - I Pe.1.19 - Jo.14.2."

    Prezado Pastor, poderia citar referencias
    bibliograficas fora da Biblia que indiquem que
    os casados permaneciam um ano sem vida comum?
    agradeco antecipadamente, Otavio

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  2. muito bom, gostaria de saber se os casamentos eram coletivos por se tratarem de dez virgens?

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  3. Que fantástico! Chorei senti a preesença de Deus lendo essa matéria.Parabéns mesmo pastor A.Rocha.

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  4. Parabéns pastor rocha belo comentario que Deus pai continue lhe abençoando muitíssimo

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  5. Parabéns pastor, pela primeira vez encontrei um blog evangélico que faz teologia de verdade, isso que o sr fez é sem dúvida uma exegese do texto bíblico e não mera interpretação.

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  6. Parabéns, pastor pela primeira vez encontrei um evangélico que faz exegese e teologia de verdade de um texto bíblico. Me perdoe os evangélicos, mas presisam estudar mais teologia e teologia de verdade com quem entende. Os protestantes se debruçaram e muito sobre o estudo teológico bíblico, uma pena que os pentecostais não seguiram na mesma linha.

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  7. Muito bom mesmo, que Deus abençoe sua Vida reverendo pastor Abílio Rocha

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  8. Muito Bom Pastor, bem detalhado, dá pra notar a similaridade da volta de Jesus que vem buscar sua noiva(a Igreja).

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  9. Isso é reforça mais a inda a revelação de que a Vinda Do Senhor será depois dos Sete Anos. Onde nossas vestes serão trocadas para as bodas do Cordeiro. Já somos casados com o Senhor, e logo Ele virá para Celebrarmos o Sétimo Dia. Setima trombeta. 42 meses, 1260 dias, ultimos 3 anos e meio. Mantenhamos Igreja virgem no Senhor, sem nos corrompermos neste mundo caído.

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  10. muito lindo em conhecimemto, eu ja preguei sobre este casamento eu , abordei o tema sobre organização , e com esta materia eu enrequeci mais o meu conhacimento parabems pastor Rocha.....

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  11. Pastor Abílio, agradeço pela interpretação da passagem, muito rica. Mas a referência das "Bodas de Caná" não seria Jo 2:1-12?

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