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sexta-feira, 8 de abril de 2011

CARRO DE BOI

Recebi outro dia uma carta de um obreiro, que dizia ter alugado um salão na cidade onde mora, com o objetivo de “alcançar o povo local”. No final, pediu nossas orações, para que Deus abençoasse aquele trabalho.

Esse tipo de pedido é normal, e até rotineiro. Entretanto, será que devo orar ao Senhor pedindo essa bênção? Eu penso que não. Quero sim, a prosperidade do trabalho, mas como não daríamos nosso aval em documento desconhecido, devemos usar maior cuidado ainda nas coisas de Deus.

Em primeiro lugar, devemos perguntar: De quem foi a idéia desse trabalho? Essa iniciativa originou-se no coração de Deus, ou na cabeça de um obreiro bem intencionado? Há tantas obras, projetos, campanhas e eventos realizados por “empresários” evangélicos, sem o aval da prefeitura divina, que a gente fica na dúvida se se trata realmente de algo do reino de Deus, ou de algum reino humano fundado em nome de Deus.

Fico preocupado com a facilidade que temos de programar e realizar eventos sem, na maioria das vezes, perguntar: “É a vontade de Deus este evento, ou um plano nosso? É dessa maneira que Deus gostaria que fosse feito?” De alguns tempos para cá essa atitude nossa vem afligindo minha alma, pois quanto mais examino as Escrituras, mais vejo que Deus não se compromete com projetos alheios, feitos à moda humana.

O caso da busca da arca da Aliança, em 1ª Crônicas 13, é um bom exemplo da postura de Deus em relação aos projetos humanos. Não que Deus não quisesse a arca de volta à Jerusalém, após 20 anos de ausência. Mas a operação foi desastrosa. Por quê? Porque Deus foi excluído do planejamento. Diz o texto: “Isto pareceu justo aos olhos de todo o povo” (v.4). Davi consultou os capitães de mil e os de cem, todos os príncipes e toda a congregação. Menos o Senhor. E ainda expressou uma dúvida: “se vem isso do SENHOR” (v.2).

Mas as dúvidas dissiparam diante da euforia da multidão, um cortejo de trinta mil Israelitas, vindos das regiões mais remotas do país para participar do maior evento do ano. Os líderes religiosos também foram convidados por Davi, mas a festa seria do povo. Não é de hoje que o povão gosta de ajuntamentos festivos. Sempre gostou. Isso não é invenção dos grandes mestres de entretenimento de hoje, sejam eles evangélicos, católicos, ou artista de televisão.

Foi Arão, o irmão mais velho de Moisés, quem promoveu, com grande sucesso, o primeiro carnaval, a quase três mil e quinhentos anos, repleto de gente desenfreada sambando ao redor de um “carro alegórico” enfeitado de bezerro de ouro (êx. 32). Chamaram isso de “festa ao Senhor”, mas foi uma mistura de sacrifícios a ídolos, divertimento carnal, e orgia sexual. Nossas festas religiosas de hoje não chegam a esses extremos, mas não deixa de haver uma mistura do sagrado com exibições carnais e motivações pouco santas; tudo em nome de Jesus.

Creio que Davi estava com as melhores das intenções quando ajuntou o povo para buscar a arca. Juntos percorreram, na maior alegria, os dezesseis quilômetros de serra até o outeiro de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, ao norte de Jerusalém. De lá levariam a arca do Senhor de volta ao seu devido lugar, na tenda que Davi havia armado para ela.

Como os filisteus haviam transportado a arca até Israel, num carro de boi, sem problemas, Davi resolveu seguir o exemplo dos ímpios, e arrumou um carrinho zero km para levar a arca, de primeira classe. Os dois filhos de Abinadabe, Uzá e Aiô, que haviam cuidado da arca durante quase vinte anos, foram nomeados para conduzi-la pela estrada montanhosa. Aiô à frente dos bois, e Uzá vigiando a arca para que não tombasse. Nenhum cuidado foi dispensado no intuito de agradar tanto a Deus, como ao povo.

Mas Deus, olhando lá de cima, não estava sorrindo de satisfação. Muito pelo contrário; seu coração deveria ter se enchido de tristeza, por mais uma vez ter de corrigir os caprichos daqueles que se diziam servos seus, mas andavam seguindo os próprios conselhos.

Na estradinha para Jerusalém parecia que ia tudo às mil maravilhas: Davi e o povo dançando com todas as forças, cantando e tocando harpas, tambores, pratos e trombetas. “Tava uma bênção!”, como se costuma dizer por aí. Fogo puro!

Até que os bois tropeçaram! O irmão de Uzá, inocente, estendeu a mão para firmar a arca e, no mesmo instante, caiu morto, fulminado, ferido por Deus. Oh, momento maldito esse, quando Deus se vê obrigado a deixar que seu povo sofra as conseqüências de seu descuido com as coisas divinas! Será até quando nós só aprenderemos apanhando?!

E a reação de Davi não foi nada diferente da nossa quando somos disciplinados por Deus. A Bíblia diz que ele ficou furioso e com medo de Deus, a ponto de largar a arca na casa de um outro cidadão, e ir embora zangado. Foi o final infeliz de uma festa que tinha tudo para dar certo.

O que aconteceu? Simplesmente isso: Deus não aceita nossos “carros de boi”, por mais bonitinhos que sejam! Em outras palavras, Deus não aceita que façamos a obra dele a nossa maneira. Se queremos garantir a bênção dele, teremos de descobrir como Ele quer que atuemos em cada situação.

Chega de inventarmos projetos e pensar que, se colocarmos o povo para orar e jejuar, Deus se verá obrigado a abençoar nossos planos. Deus só tem compromisso com o projeto eterno dele mesmo, e se queremos viver abençoados, somos nós que teremos de nos dobrar diante dele, e não ele diante dos nossos clamores. O fato de vivermos pedindo as bênçãos de Deus mostra a incerteza que temos em relação a vontade dele. Mas quando vivermos guiados pelo Espírito como Jesus vivia e fazendo somente a vontade do Pai, teremos a mesma bênção celestial de que Jesus gozava; e isto sem pedir nada.

É hora de fecharmos nossas “fábricas de carros de boi”. Davi fez isso. Quando soube que a casa de Obede-Edom estava sendo abençoada por causa da arca que lá ficara, resolveu consultar a Deus. E descobriu por que Obede estava sendo abençoado, e ele não. É que ninguém, a não ser os levitas, podiam cuidar da arca, ou carregá-la. Uma coisa tão simples, mas tão importante. Quase sempre tropeçamos nas coisas simples, por considerá-las insignificantes. Entretanto não há nada insignificante no reino de Deus e, se quisermos ser cooperadores do Senhor Jesus, teremos de respeitar as suas ordenanças.

Davi se arrependeu, e resolveu buscar a arca mais uma vez. Contudo, para garantir a bênção de Deus, convocou oitocentos e sessentas e dois levitas, dois sacerdotes, e o povo. Mandou formar um grande coral e orquestra de levitas, e colocou-os sob a direção do maestro Quenanias. Assim, com grande júbilo, levaram a arca para Jerusalém (1° Cr. 15). Dessa vez o final foi feliz.

E se buscarmos o Senhor, antes de embarcarmos em qualquer projeto, também poderemos ser bem-sucedidos, sempre. Vamos atear fogo em nossos “carros de boi”, e levar a arca de Deus como ele ordenou. Só assim poderemos dizer com Jesus: “Eu te glorifiquei… Consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4).


(texto extraído da revista “Mensagem da Cruz” n°118 - pg. 26, 27, 28 e 29).

Um comentário:

  1. Isaías 45 versículo 1-2-3
    Jeremias, 33 versículo 3
    Lucas 1, versículo 37

    Deus abençoe você e sua família
    Saudações
    Jan Samuel
    Noruega

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